Basta alguns minutos em sites de notícias e redes sociais de figuras públicas, ou não, para constatar o crescente fenômeno do "bebê reborn". Manchetes como "Casal disputa guarda de bebê reborn na Justiça" (CNN Brasil), "Especialistas discutem uso terapêutico de bebês reborn por adultos" (CNN Brasil), "Projetos de lei propõem restrições ao uso de bebês reborn" (UOL) e a curiosa "Maternidade de bebês reborn em ville oferece ultrassom e certidão de nascimento" (NSC Total) mostram como o tratamento dessas bonecas realistas ganhou espaço no debate e na mídia em geral.
A psicologia oferece diversas leituras para compreender esse comportamento. A psicanalista Valeska Zanello, da Universidade de Brasília (UnB), em entrevista à CNN Brasil, sugere que os bebês reborn podem atuar como ferramentas terapêuticas no enfrentamento de traumas, luto ou a impossibilidade de gerar filhos. Contudo, Zanello adverte para a necessidade de atenção quando essa prática extrapola os limites, manifestando-se em rituais como a criação de enxovais, a simulação de exames médicos ou o uso de espaços preferenciais, o que pode indicar uma tentativa de fuga da realidade.
É precisamente nesse ponto, o de fugir da realidade, que encontramos um paralelo com os eventos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A imersão na fantasia da maternidade de um bebê reborn, com seus cuidados e afetos direcionados a uma boneca, guarda semelhanças com a dedicação de indivíduos que se mobilizaram por meses em frente a quartéis, na crença de que poderiam mudar o resultado de um processo eleitoral democrático. Em ambos os casos, observa-se uma rejeição da realidade estabelecida e a escolha de uma narrativa construída capaz de oferecer um senso de pertencimento e um propósito.
Um exemplo marcante dessa dinâmica é a figura de Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, a "Fátima de Tubarão". Sua jornada até Brasília, para "conversar" com o ministro Alexandre de Moraes sobre o código-fonte das urnas, levou a sua participação na invasão ao STF, motivada, segundo seu relato, por um chamado ouvido em um carro de som no acampamento.
Assim, Dona Fátima e a mulher que busca a fila preferencial do supermercado amparada em seu bebê reborn, em esferas distintas, compartilham uma mesma dificuldade em aceitar a realidade em sua forma mais crua. Ainda que os meios e os discursos que motivam suas ações sejam diferentes, o impulso do fazer parece ser o mesmo, o de construir uma versão paralela do mundo, mais alinhada aos seus desejos e menos próxima da experiência dura da realidade.
É importantíssimo ressaltar que não se busca aqui equiparar a gravidade ,de um ato solitário, muitas vezes de busca por conforto emocional com a invasão e a depredação de instituições democráticas. No entanto, a semelhança reside no que impulsiona essas escolhas.
Com isso, tanto as mulheres que investem profundo afeto (e muita das vezes muito dinheiro) em bebês reborn quanto aquelas que participaram dos atos golpistas de 2023 demonstram uma vontade de negar ou remodelar a realidade diante de suas frustrações. Seja através da manifestação de sentimentos maternos em uma boneca ou da crença na possibilidade de alterar a escolha de uma maioria e sendo assim, ambos os comportamentos revelam a busca por construir um universo paralelo como forma de lidar ou com as perdas ou com a sensação de impotência diante dos fatos da vida.
A psicologia oferece diversas leituras para compreender esse comportamento. A psicanalista Valeska Zanello, da Universidade de Brasília (UnB), em entrevista à CNN Brasil, sugere que os bebês reborn podem atuar como ferramentas terapêuticas no enfrentamento de traumas, luto ou a impossibilidade de gerar filhos. Contudo, Zanello adverte para a necessidade de atenção quando essa prática extrapola os limites, manifestando-se em rituais como a criação de enxovais, a simulação de exames médicos ou o uso de espaços preferenciais, o que pode indicar uma tentativa de fuga da realidade.
É precisamente nesse ponto, o de fugir da realidade, que encontramos um paralelo com os eventos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
A imersão na fantasia da maternidade de um bebê reborn, com seus cuidados e afetos direcionados a uma boneca, guarda semelhanças com a dedicação de indivíduos que se mobilizaram por meses em frente a quartéis, na crença de que poderiam mudar o resultado de um processo eleitoral democrático. Em ambos os casos, observa-se uma rejeição da realidade estabelecida e a escolha de uma narrativa construída capaz de oferecer um senso de pertencimento e um propósito.
Um exemplo marcante dessa dinâmica é a figura de Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, a "Fátima de Tubarão". Sua jornada até Brasília, para "conversar" com o ministro Alexandre de Moraes sobre o código-fonte das urnas, levou a sua participação na invasão ao STF, motivada, segundo seu relato, por um chamado ouvido em um carro de som no acampamento.
Assim, Dona Fátima e a mulher que busca a fila preferencial do supermercado amparada em seu bebê reborn, em esferas distintas, compartilham uma mesma dificuldade em aceitar a realidade em sua forma mais crua. Ainda que os meios e os discursos que motivam suas ações sejam diferentes, o impulso do fazer parece ser o mesmo, o de construir uma versão paralela do mundo, mais alinhada aos seus desejos e menos próxima da experiência dura da realidade.
É importantíssimo ressaltar que não se busca aqui equiparar a gravidade ,de um ato solitário, muitas vezes de busca por conforto emocional com a invasão e a depredação de instituições democráticas. No entanto, a semelhança reside no que impulsiona essas escolhas.
Com isso, tanto as mulheres que investem profundo afeto (e muita das vezes muito dinheiro) em bebês reborn quanto aquelas que participaram dos atos golpistas de 2023 demonstram uma vontade de negar ou remodelar a realidade diante de suas frustrações. Seja através da manifestação de sentimentos maternos em uma boneca ou da crença na possibilidade de alterar a escolha de uma maioria e sendo assim, ambos os comportamentos revelam a busca por construir um universo paralelo como forma de lidar ou com as perdas ou com a sensação de impotência diante dos fatos da vida.